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O Medo

O MEDO Quero educar os meus filhos num país sem medo para que saibam honrar o que custou a Liberdade que a Independência devia ter plantado. Quero muito ajudar a construir um país, onde um dia seja uma obrigação constitucional “Proibido ter Medo”. As pessoas não devem ter medo. Devem ter Respeito mas o Respeito quando se impõe com violência é porque alguma coisa está errada. O Respeito deve ser baseado nos bons exemplos, conquistado com a humanidade da Boa Governação e com uma Justiça que aja apenas em nome próprio.

A Estratégia do Medo que é reforçada a cada pronunciamento, tem sido tão eficaz que recebo, todos os dias, conselhos de pessoas que me querem bem, amigos, familiares, seguidores do Facebook e pessoas anónimas que me reconhecem na rua, para que tenha cuidado e pense nos meus filhos, porque em Angola falar muito “traz AZAR”.

Eu que não faço parte de nenhum grupo extremista, que não ofendo pessoas, que não tenho partido, que nunca tive nenhum conflito com a Lei, que não sou apoiada por nenhuma instituição estrangeira que com fins ocultos me fornece as cadeiras de rodas que ofereço a quem precisa e que só faço vigílias pela VIDA estou a ser “incluída” na lista dos “inimigos da paz”, porque expresso a minha opinião, não obstante a imparcialidade da mesma.

São pessoas de todas as idades, credos, com e sem filiação partidária. São jovens que em casa ouvem todos os dias “xé menino, não fala política” e por isso estão a ser castrados intelectualmente. Recebo estas “manifestações de medo” com carinho mas com grande preocupação, porque é de facto o MEDO que está a desconstruir este país. As pessoas temem pela vida, pelo emprego, pela segurança do filho que decide pensar em liberdade e mais cedo ou mais tarde será classificado como um Revú.

As pessoas têm Medo porque sabem que a partir do momento em que são “classificadas” tudo pode acontecer. É um medo real, que tem cheiro, que tem exemplos e memórias dolorosas. É um medo que as paralisa mas que dá largas à abundância de falta de sentido de algumas pessoas que vão perder a legitimidade se continuarem a insistir nesta estratégia porque ela é infiel ao sonho de uma Angola para todos.

E é por causa da Estratégia do Medo que estamos a assistir a várias injustiças que acontecem todos os dias e até aqui não nos metemos porque, a maioria das vezes, o medo falou mais alto. Falo dos desalojamentos ilegais que em nome do voraz apetite imobiliário mandam angolanos para sítios sem dignidade, sem constitucionalidade e sem respeito, sequer, pelo voto destas pessoas. São as prisões arbitrárias que se antecipam às investigações. É o salário mínimo que não dá nem para comprar o carvão para o churrasco dos nossos governantes no fim de semana, mas pode alimentar uma família inteira durante um mês. Tudo isto 40 anos depois de termos ganho um país.

Queremos confiar nas nossas instituições, sim! Prometeram-nos celeridade, justiça e imparcialidade. Mas um bem maior que a constitucionalidade de qualquer defesa está em causa. O BEM VIDA. Jovens que decidiram fazer uma Greve de Fome porque sentiram que esse era o seu último recurso face ao tratamento desumano que as autoridades dizem não existir, face à ausência de respeito pela presunção das suas inocências e ao excesso de prisão preventiva.

O processo já foi remetido para o tribunal. Esperávamos que a partir daqui tivesse ganho maior credibilidade e que se tivesse tornado breve a tortura da espera. Mas continuamos à espera. Que se apresentem as Provas: os flagrantes delitos, os países que lhes prometeram milhões e os apoiavam, o exército que tinham para poderem tomar o país de assalto.

Mostrem as armas, as balas, os mísseis, os estrategas militares e os cúmplices ocultos. Porque só com estes elementos se constroem, de forma credível, “actos preparatórios de Sublevação do Poder instituído” num país, onde é mais do que justo que se reconheça que tem dois exércitos bem treinados e dotados de uma incomensurável capacidade operacional, sendo considerados entre os melhores do mundo.

O prazo do Medo está esgotado em Angola. Está a deixar de ser aceite porque o povo já não consegue identificar um inimigo. Hoje tem vários inimigos. A fome, o desemprego, a mortalidade, a delinquência, a obrigatoriedade de ser militante sob pena de não ter acesso a nenhuma regalia, que aliados à falta de água, de energia, de capacidade para comer decentemente, de pagar a evolução sadia dos filhos em todos os sentidos, não irá permitir que as pessoas construam confiança nas instituições, por mais campanhas de marketing que se pague, muito menos porque elas nem sequer são ouvidas.

Eu não quero ter medo. Eu quero ter respeito pelas nossas instituições. Mas não estarei em condições de o fazer sem esforço se continuar a assistir a tantas arbitrariedades de um Estado musculado e sem respeito pelos direitos das pessoas. E não me digam que estes direitos estão na CRA, porque eu também sei ler. Sim, temos uma Constituição que contempla os pressupostos essenciais do Estado de Direito, mas não a cumprimos cá dentro, porque ela é inaplicável face à falta de “Sentido de Estado” de muitos intervenientes públicos que a moldam em função das marés.

Eu queria que estes direitos fossem respeitados em cada acto administrativo, em cada sentença judicial, em cada reclamação que o cidadão faz, no dia-a-dia das pessoas, com simplicidade e sem termos que agradecer por isso. Porque é no procedimento diário que se materializa o respeito pelos direitos das pessoas e não na teoria.

Somos legalistas apenas para fora de portas. Assinamos Tratados, Convenções, Acordos mas quando nos cobram dizemos que são ingerências e internamente não os respeitamos. Somos um país que apenas reage alto quando o exterior se pronuncia, não obstante a quantidade de relatórios produzidos em Angola que provam estes constrangimentos. Somos assim porque deixámos que a Estratégia do Medo fosse superior ao nosso amor pela Pátria e pelos nossos filhos. Mas nenhum Povo evolui com medo, porque o medo é contrário à vontade de criar.

Eu não posso ter medo porque não quero contagiar os meus filhos que têm que ser livres para crescerem como cidadãos e não como militantes subordinados. E quando às vezes ainda tenho medo, então eu vou com medo mesmo se o que defendo for bom para a maioria das pessoas.

Porque estou farta da Estratégia do Medo, desisto de ter medo! 

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