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Está alguém a avaliar?

Quem avalia os recados do Povo, os seus sonhos por realizar e a sua dor? Onde estão as garantias da nossa protecção enquanto eleitores e contribuintes?

Quem nos garante a esperança de que, quando reclamamos, seremos ouvidos na condição de cidadãos e não de inimigos da paz! Quem está a avaliar o medo colectivo que é uma faca de dois gumes?

Onde se avalia a competência dos peritos em governação avançada, que permanecem no aparelho de Estado durante anos, saltando da cadeira para o banco, do banco para o conselho de administração e daqui para a diplomacia?

Muitos deles nunca foram, sequer, capazes de produzir um salto para a frente que fosse digno de nos conduzir para um caminho sem retrocessos constantes. Quando a função vira emprego, as pessoas deixam de servir e passam a servir-se. Quem nos garante que podemos confiar num gestor público exonerado por insuficiência de competência e que um tempo mais tarde regressa na qualidade de salvador de alguma crise? Quem faz a avaliação do up grade deste quadro? Onde estão os mecanismos de avaliação da negligência hospitalar que mata mais do que merecemos e a culpa morre solteira, do aumento da criminalidade que nos rouba o futuro e da falta de luz que é recorrente, apesar de tanto investimento?

Quem se preocupa com a ineficiente estratégia do GRECIMA, que produz um chouriço, quando o que recebe dá para comprar milhares de porcos? Quem está a avaliar a capacidade de nos mostrarem um caminho para a diversificação da economia, sem truques de propaganda para garantir o posto, que seja real, exequível, de consenso e que se traduza numa mais-valia sustentada, em vez de estarmos sempre a mudar de plano a cada momento eleitoral, sem garantias futuras de sucesso porque os factores de constrangimento nunca são analisados e, por isso, as más práticas são sucessivas, e, em virtude disso, nunca "distribuímos melhor"? Quem avalia a fome do Sul e a liberdade para contrariar em Cabinda? Onde está o centro de comando estratégico (sem ser a ADRA a quem nunca foi reconhecida a Utilidade Pública, não obstante ser a única 'antena' que funciona) que monitoriza a nossa irresponsável dependência externa em matéria alimentar, quando até o sal vem da Namíbia e a fuba vem do Brasil e da Argentina? O nosso solo é estéril, não serve para plantar mandioca nem milho? E o nosso mar, afinal, é doce ou o colono ainda não "devolveu a matéria-prima" que levou antes da independência? A razão desta inquietação prende- se com a ausência de sentido de muitas situações que insistem em se manter, não obstante darem provas manifestas e reiteradas de total ineficácia.

São programas, estratégias, planos, pessoas, leis e desculpas em abundância suficiente, capazes de me fazer perguntar se o Rumo ainda é uma direcção ou temos de adquirir um novo modelo de GPS. Exemplificando esta preocupação, olho para a incapacidade da gestão urbana. Modelos e governadores e comissões de gestão da especialidade e planos, mais a nova divisão político administrativa e o resultado é um estridente Zero.

Foram criadas comissões para encontrar salvações, foram trazidos reforços intelectuais para nos darem conforto e garantirem a nossa esperança de vida, mas falharam. Ouvimos especialistas em lixos internacionais, com estratégias que deviam dirimir a incompetência, que bateram no peito de triunfo, mostrando a Angola e ao mundo que somos capazes de reciclar até à maledicência de "pessoas mal-agradecidas" que tentam subverter a ordem institucional, mas não conseguimos com a mesma "verticalidade e orgulho institucional" reciclar os vícios instalados pelos negócios de todo aqueles que têm parentes na cozinha do poder e viram no lixo a herança que o pai não lhes deixou, podendo, desta forma, cumprir o desiderato da sua eficaz acumulação, primitiva em todos os sentidos, de uma riqueza que cheira mal. Vemos os nossos programas de combate à pobreza serem mostrados em conferências internacionais com pompa e circunstância, como se fossem a sério.

Mas, não os vemos serem eficazes aqui em casa, nem vemos ninguém vir explicar por que raio o PRESILD, POUPA LÁ e outros se eclipsam e num modelo avançado de photoshop renascem tempos depois e entram nesse mundo insondável das "parcerias público-privadas", sem que vejamos qualquer tipo de transparência na inclusão privada, que surja por via de um mecanismo público e justo.

E todos os dias nasce mais um programa de alívio à pobreza, só não sabemos alívio da pobreza de quem, porque os pobres abundam e crescem a uma velocidade geométrica. Tomamos conhecimento de que o Governo olhou para os jovens e decidiu-se a "empreendê-los".

O Ministério da Juventude teve uma "ideia brilhante" e criou um programa que vai "dar" quiosques aos jovens, para venderem cigarros, entre outros produtos. Já tivemos o BUE, cuja avaliação não vimos nem vírgula, mas que a nossa leitura permite avaliar que foi Bué fracassado, já que não há, sequer, um estudo que demonstre a incidência no combate ao desemprego jovem e qual foi o retorno do avultado investimento. E eis que surge, agora, o "Mecanismo do Quiosque" que irá, literalmente, "torrar" mais uns milhões que não fazem falta quando a irresponsabilidade é já uma forma de governar, em detrimento de um projecto de formação financiada e realista, num modelo que permitisse garantir sustentabilidade futura por via do conhecimento e não "do desenrasca". E a riqueza de muitos dos nossos 'Novos Ricos' quem a avalia? As leis existem, resta apenas provar a inocência da proveniência por parte dos 'acumuladores' de serviço.

Onde estão os exímios e impiedosos "fiscais" que, com a crise, se decidiram a criar fundos ainda mais falsos nos bolsos dos mais pobres, remexendo em todas as possibilidades de taxar o contribuinte por coisas que ele sequer usufrui, a exemplo de uma estrada normal, não obstante o coercivo pagamento da taxa de circulação, mas que não se mexe nem remexe perante os sinais exteriores de riqueza de uma elite milionária e arrogante, cuja abundância pode, até prova em contrário, ser proveniente de um interminável e pornográfico 'cabritismo'. Quem está a velar pelo desconsolo de muitas famílias que, com esforço, mandam os filhos para uma licenciatura e depois são confrontados com um canudo que não dá nenhuma garantia de emprego?

É que existem alguns Prof. Doutores sem competência, sequer para escrever, que invertem a natureza da Formação e DEFORMAM o aluno. Prof. Doutores que, em púbico, dão bandeira de desconhecimento acerca da matéria que ensinam e demonstram total ausência de lógica! Como podem as universidades que os têm aceitar prestar este serviço de qualidade manhosa às famílias angolanas? Quem acompanha e regista este e outros fenómenos que ocorrem nas universidades, a exemplo do assédio sexual que envolve rostos públicos denunciados pelas alunas? Quem avalia a prática que exige o pagamento em troca da nota? Precisamos de um avaliador das avaliações?

Vivemos uma democracia musculada que tem amarras profundas na intolerância e na falta de actualidade para enfrentar os desafios do século XXI, que não precisa de mais chefes, apenas quer Líderes. Onde estão os mecanismos independentes que possam garantir que se dê um passo qualitativo, para que se coloque Angola à frente da militância? E isto seja reflectido no Progresso social, na Justiça, na Distribuição da Riqueza, na criação de uma Comissão Eleitoral Independente susceptível de garantir que a dúvida se dissipe?

Quem avalia o perigo que é a nossa Constituição que nos amarra a um modelo restritivo da nossa liberdade de escolha e concentrou poderes excessivos, que um dia serão usados por outros que ainda nem conhecemos e pode correr muito mal se as intenções, desses outros, forem isentas de amor a Pátria e ao bem comum?

A avaliação desta e de muitas outras questões públicas de 'difícil' resolução é uma exigência que deve ser feita ao Estado, sem que tenhamos que agradecer, por ser uma obrigação. Sem um mecanismo de alerta e avaliação, com carácter vinculativo e se continuarmos com o actual modelo de gestão, baseado no amiguismo, militância e na agenda de cada um, em detrimento de uma agenda nacional e de consenso, o modelo estará em condições de fazer nascer uma derrota colectiva, que será a derrota do povo angolano, empobrecido em todos os sentidos, não obstante terem passados 40 anos desde que o País ficou nosso. 

in http://agora.co.ao/Agora/Artigo/60822

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