A Lei da Rolha

Se a Internet tivesse sido inventada no início do século XX, tenho a certeza de que o Hitler não duraria seis meses.
A violência colonial teria sido rejeitada, pelas vítimas, de forma muito mais célere. As Independências Africanas caídas em desgraça, ainda nos anos 60, teriam sido um bom mecanismo, para que as que as sucederam não repetissem os mesmos erros. O 27 de Maio não teria sido possível e milhares de filhos não teriam morrido em vão.
E é por causa de centenas de outros maus exemplos de que a Humanidade se envergonha que temos a obrigatoriedade de educar os nossos filhos com uma nova consciência sobre a cidadania e o valor da vida humana.
Desejar, no século XXI, controlar a informação é tão ineficaz e absurdo como querer segurar água com as mãos. Infelizmente esta realidade ainda não se materializou na mente de alguns governos deste mundo, sobretudo quando nos referimos a países cuja democracia é muito mais formal do que real ou quando não existe democracia de todo, por mais boa vontade que tenhamos ao tentar decifrar o "teor político" de alguns governos.
Este século cada vez mais virtual em que vivemos, é fruto de várias conquistas milenares, feitas por Homens brilhantes que numa sucessão de boas intenções trouxeram ao mundo a capacidade de difundir informação, permitindo que saíssemos do obscurantismo medieval. Desde que Gutenberg inventou a prensa tipográfica até ao nascimento do Google, o ser humano foi-se desprendendo das amarras da informação controlada e hoje passou a prover as suas necessidades intelectuais sem ter que pedir autorização. Por isso, é com imensa preocupação que olho para governos que, ao invés de incentivarem a partilha do conhecimento, querem condicionar os seus povos a uma informação restrita aos seus interesses doentios e que já não cabem neste tempo. Como se dá então o caso de em pleno século XXI, pessoas que foram eleitas pelo povo, pessoas que lutaram contra opressores e ditaduras coloniais, nos venham agora impingir, de forma coerciva, um modelo jurássico de acesso à informação?
A necessidade dos povos comunicarem e partilharem informação está comprovada desde o Homem Neandertal, quando as comunidades se reuniam sob as imagens que pintavam nas cavernas, sobre o dia-a-dia, as regras e os medos. Mas foi, sem dúvida, o grito do Iluminismo, que ganhou eco com a Revolução Francesa (1789-1799), embrião da Democracia, trazido por Rousseau e Montesquieu, que estabeleceu a Era de Modernidade através da Liberdade, ao lado da Fraternidade e da Igualdade.
E nunca mais o mundo foi igual. Com a criação do Google a humanidade deu um salto para a frente. Somos livres de procurar, construir e partilhar informação. E não falo de política apenas. Falo de medicina, arte, gastronomia, arquitectura, ciência, enfim um mundo colocado à distância de um clique. A aldeia tornou-se global. Sabemos ao segundo o que está a acontecer do outro lado da nossa rua ou do outro lado do universo. A internet tornou-se a principal fonte de informação da Humanidade. E o que é global, positivo e dá dinheiro, ninguém consegue derrotar. Mas ainda assim há quem insista em querer parar o tempo, congelar as conquistas e pretender controlar as redes sociais! Nos últimos anos tem sido fértil a informação sobre vários maus exemplos mundiais.
Um dos exemplos caricatos ocorreu na Turquia que fez aprovar, no ano passado, uma Lei no Parlamento onde o órgão responsável pelas telecomunicações pode bloquear sites, sobretudo os que atacavam a corrupção endémica institucional que levou à demissão de alguns ministros, sem autorização judicial que ficarão bloqueados até que algum Juiz não concorde e se manifeste. Está-se mesmo a ver um Juiz turco a contrariar uma "ordem superior"???
Por cá, os exemplos não são melhores. Num país que este ano festeja 40 anos de Independência, é lamentável a opressão sobre a nossa liberdade de acesso à informação. Apenas com um Jornal Diário que é uma caixa de ressonância e de má qualidade dos desígnios do executivo, com três canais de televisão, sendo um público, mas ao serviço do partido no governo (TPA1), outro Atípico pois quem paga as contas é o erário, mas quem recebe os lucros é uma empresa privada que recebeu este canal por ajuste directo (TPA2) e outra de carácter privado que conseguiu instalar o contraditório (Zimbo), mas que não poderia ser minha, nem de outro cidadão, por razões que todos conhecemos.
Com as rádios passa-se o mesmo, pois são todas conotadas para o mesmo lado, à excepção da Eclésia, que é um Bom exemplo de rádio comercial, de equilíbrio e diversificação de informação e de imparcialidade e da Despertar que é um Mau exemplo de rádio política (uma Vorgan fora do seu tempo) com alvará comercial, pois continua a comportar-se da mesma forma como aqueles a quem critica. Ambas são rádios locais sem autorização, que se vislumbre, para irem mais longe.
A Internet pode e deve ser um excelente aliado de todos os governos que cumpram o que prometem e em países onde o nível de transparência não permite que se acumulem dúvidas sobre o desempenho governamental. Através da divulgação dos seus feitos reais, com a oportunidade de partilharem informação útil sobre imensos assuntos que a todos diz respeito e que nos permite avaliar a qualidade do desempenho da governação. Pode ser um excelente mecanismo de promoção de redes comunitárias que os Estados podem organizar, de forma apartidária e que divulguem o que em conjunto, Governo e Sociedade Civil está a ser feito para o desenvolvimento de inúmeras áreas. Pode, no limite, conseguir ganhar uma eleição como aconteceu com OBAMA que elevou o uso da Internet ao mais elevado patamar de sucesso e de financiamento eleitoral. Mas infelizmente não é isto que acontece em todos os sítios.
Temos consciência que, no âmbito da Segurança dos Estados, foram criados, em todo o mundo, mecanismos de controlo razoáveis, que permitam acompanhar informação que atente contra valores ou vidas Humanas. Infelizmente também há excessos de controlo e quando são tornados públicos tornam-se virais e obrigam a sérios recuos e explicações públicas, para além dos incontáveis inquéritos internos.
Todos os anos o Estado angolano gasta milhões de USD para promover a sua imagem dentro e fora do país, com recurso à Internet. Infelizmente estes milhões pagos a empresas que apresentam a falta de qualidade técnica que o GRECIMA apresenta, incapaz de fazer o trabalho que qualquer adolescente de 14 anos faz com glória e engenho criativo e com meia dúzia de kwanzas, não consegue atingir nenhum alvo, pois os seus "tiros" nem chegam, sequer, a sair da culatra pela falta de eficiência e de eficácia do seu trabalho. O objectivo principal da Internet sempre foi a comunicação.
E a comunicação convencional foi seriamente afectada alterando-se definitivamente. Em todo o mundo da banca, às petrolíferas, do serviço hospitalar ao serviço de protecção e alerta de calamidades, da Economia global à Literatura ou serviço de correio, o mundo mostra-se insusceptível de prescindir da Internet. Tornou-se intrínseca. Solidária. Reveladora. Defensora dos mais desvalidos. Arauto contra as injustiças sociais locais e globais.
Denúncia constante sobre a violação dos nossos direitos civis e humanos. Os Governos que ainda não compreenderam isto deverão correr à procura de uma nova postura. Deverão preocupar-se muito mais com a verdadeira natureza da sua governação. Sobre os seus calcanhares de Aquiles que se encontram na corrupção, no nepotismo, no desrespeito pelos eleitores e contribuintes e na falta de ideias inovadoras. Querer governar apenas pela apetência ao poder já não serve no século XXI. Há que ser capaz para materializar progresso social, desenvolvimento humano, educação de qualidade e saúde que garanta sobrevida. Os povos hoje cruzam dados a partir da sua cozinha ou do cibercafé mais próximo da sua aldeia. Os povos são reconhecidos a quem os trata bem. Mas são imparciais no julgamento de quem não cumpre e com governos que não dão liberdade e não constroem laços de fraternidade entre todos os cidadãos.
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