OPais online | 9 - 1 -2009

o pais9 - 1 -2009

Foi-se a Mamã Coragem

Anália Maria Caldeira de Vitória Pereira Simeão era uma “mulher de luta, muito corajosa”, que se batia pelos ideais de Democracia “em Angola”, disse Adriano Pedro, presidente da Associação de Juventude Angolana, em Lisboa, a propósito da morte da líder do PLD.

Anália de Vitória Pereira, cujo corpo esteve em câmara ardente na Igreja do Campo Grande, é transladada esta sexta-feira para Luanda. Morreu no Instituto Português de Oncologia (IPO), em Lisboa, aos 67 anos, na madrugada de quarta-feira, vítima de doença prolongada.

Anália Maria Caldeira de Vitória Pereira Simeão era uma “mulher de luta, muito corajosa”, que se batia pelos ideais de Democracia “em Angola”, disse Adriano Pedro, presidente da Associação de Juventude Angolana, em Lisboa, a propósito da morte da líder do PLD. 
Anália de Vitória Pereira, cujo corpo esteve em câmara ardente na Igreja do Campo Grande, é transladada esta sexta-feira para Luanda. Morreu no Instituto Português de Oncologia (IPO), em Lisboa, aos 67 anos, na madrugada de quarta-feira, vítima de doença prolongada.
“Era uma mãe e mulher extraordinária que conheci em Portugal e na sua casa em Luanda, em várias ocasiões em que me desloquei a Angola. "Ela amava o seu país”, acrescentou a O País Adriano Pedro, 40 anos, líder de um projecto de apoio à comunidade angolana num bairro português. Carolina Rebelo de Morais, uma amiga angolana residente em Lisboa que foi avisada da morte da dirigente política a partir de Londres, por uma prima, disse na quarta-feira a O País que Anália era “muito dinâmica e charmosa”. 
Em Portugal, onde obteve o estatuto de refugiada política no princípio dos anos 80, “chegou a passar muitas dificuldades”, recordou Carolina, acrescentando que, no momento do velório, “muitos angolanos se irão despedir dela à igreja”. Natural da capital angolana, Anália Pereira era conhecida por “mamã coragem” por ter sido a única mulher de África a liderar um partido político nos anos 90. 

PERCURSO POLITICO

Com o marido, o também político (entretanto falecido) Carlos Simeão, Anália de Vitóra Pereira fundou em 1983, em Lisboa, o Partido Liberal Democrático de Angola (PLD). 
Após 16 anos de exílio, regressou a Angola em 1991. 
Legalizou o PLD e concorreu às primeiras eleições pós-independência, em Setembro de 1992, em que o seu partido conseguiu três assentos parlamentares e a pasta de vice-ministro da Educação para o Ensino Especial, cargo ocupado pela única filha da líder, Alexandra Simeão. 
Eleita deputada, Anália Vitória de Pereira voltou a concorrer em 5 de Setembro passado ao parlamento, encabeçando a lista do PLD que, desta vez, obteve um resultado inexpressivo. 
Anália de Vitória Pereira sempre disse que a política era a sua vida e que nela pretendia continuar até onde pudesse. Tida como pessoa ousada e sem medo, foi a única mulher candidata às eleições presidenciais angolanas de 1992. 
Na Assembleia Nacional, onde esteve como Presidente do Grupo Parlamentar do PLD, foi membro do Conselho de Administração e participou da Comissão dos Direitos Humanos, durante a legislatura de 1992 a 2008. 
Nas suas intervenções, durante a campanha eleitoral de 5 de Setembro, mostrou-se bastante critica ao governo do MPLA e apresentou um modelo de solidariedade para com os antigos combatentes, viúvas e cidadãos que careciam de ajuda substantiva, com objectivo de angariar mais votos e obter uma bancada parlamentar mais sólida. 
Contudo, reconheceu a vitória do MPLA e felicitou-o pela confiança da maioria dos angolanos e apelou a este a consolidação da democracia, a paz e a reconciliação nacional. 
Em Outubro de 2008, aquando da investidura dos deputados no actual Parlamento, Anália fez-se presente e falou a O País sobre a importância e grandeza do momento para a continuação da consolidação da democracia em Angola. 
Mamã Coragem preparava-se para concorrer, pela segunda vez, para o cargo de chefia do governo de Angola nas próximas eleições presidenciais previstas para 2009. 

Família politica consternada com morte de Anália Pereira 
     
 Várias organizações governamentais, partidos políticos e organizações da sociedade civil rendem homenagem àquela que se destacou como Mamã Coragem, através de mensagens endereçadas à família enlutada e ao Partido Liberal Democrático. 
O Ministério da Família e Promoção da Mulher manifestou, numa mensagem, a sua profunda dor ao tomar conhecimento do desaparecimento físico de Anália de Vitória Pereira, que considera ter participado “de forma decisiva no processo de democratização do país”. 
A mensagem de condolências do MINFAMU deplora a morte da líder e inclina-se perante a sua memória. 
O MPLA, por seu lado lamentou a morte de Anália de Vitória Pereira numa mensagem do seu Bureau Político. A mensagem diz que foi com profunda dor e consternação que tomou conhecimento da trágica notícia, e destaca a figura de Anália, como participante activa da vida política do país. 
O Bureau Político do MPLA reconheceu, na mensagem, que o empenho e o entusiasmo de Anália Pereira contribuíram para o reconhecimento do seu carisma como líder e do seu amor à pátria. 
A UNITA também lamentou a morte de Anália Pereira na voz do seu líder Isaías Samakuva. Para o Presidente da UNITA,  estão de luto todos os angolanos que buscam e comungam das ideias da malograda, que para ele são “ideias de liberdade, justiça e democracia”. 
O líder da FNLA, Ngola Kabangu, manifestou profunda consternação pela morte de Anália Pereira, com quem conviveu na cena política angolana. 
Kabangu enalteceu o perfil de Anália Pereira enquanto mulher lutadora. Para a FNLA Angola “perdeu uma filha, uma cidadã corajosa e o PLD perde uma grande líder”, A Frente para a Democracia (FPD) e o  Partido de Renovação Social lamentaram igualmente a morte da líder do PLD e endereçam mensagem de condolências a família da malograda e ao PLD. 
O Conselho Político da Oposição (CPO) manifestou-se abalado com a morte de Anália Pereira  e manifestou  o seu profundo sentimento de pesar  e a sua solidariedade à família enlutada e ao PLD. 
Pela internet, angolanos espalhados por vários países manifestam a sua tristeza pela morte da Mamã Coragem.  A Comissão Política Nacional do PLD reuniu horas depois da noticia da morte da sua lider para tratar das questões ligadas as exéquias fúnebres. 
Alexandra Pereira, política e filha da malograda, confirmou à imprensa portuguesa o empenho do Ministério da Saúde de Angola para a transladação dos restos mortais de sua mãe.
Raiz
       

Oriunda de uma família conceituada do sul do país, o seu pai era veterinário.

Dois meses antes da Independência de Angola do , em Novembro de 1975, Anália Pereira foi com a família para Portugal e poucos anos depois conseguiu o estatuto de refugiada política.

Em Portugal ajudou a criar a “Liga de Apoio aos Refugiados Angolanos” (LARA), cuja actividade influenciou a criação do estatuto de refugiado político, aprovado em 1980 e que até hoje beneficia vários estrangeiros residentes em Portugal.

A lider falecida deixa três netos e um “filho de criação”, também filiado no partido e candidato a deputado nas eleições de 5 de Setembro de 2008.  

Na Assembleia Nacional, onde esteve como Presidente do Grupo Parlamentar do PLD, foi membro do Conselho de Administração e participou da Comissão dos Direitos Humanos, durante a legislatura de 1992 a 2008.

José Kaliengue e Amor de Fátima